Quando o Douglas me falou que pretendia escrever um
livro sobre a nossa família, confesso que, de imediato, não me entusiasmei com
a idéia.
Afinal nossa mãe havia falecido a
tão pouco tempo e tive receio de que uma viagem pela memória pudesse, naquele
momento, aumentar seu sofrimento.
Pensei ser necessário preparar a alma
com antecedência para tal projeto.
Á medida que este foi se concretizando,
porém, percebi que escrever este livro o ajudou a enfrentar sua dor,
reconfortando-o tal como uma prece.
Se uma das tarefas da literatura é nos
ajudar a superar a solidão que nos é comum a todos ao retratar em palavras e
imagens a história particular de José e Isaura, você, Douglas, resgatou
justamente as memórias que não somente moram em nossos
corações, como também fazem parte de nós.
E “aquilo
que a memória ama fica eterno”, escreveu Adélia Prado.
O amor não suporta o esquecimento.
Posso dizer que este livro foi para você um ato de reafirmação. Você não se
permitiu esquecer. José e Isaura continuam presentes como saudade, pois lá no
fundo onde mora a saudade não há esquecimentos. Lá só moram aqueles que foram
amados.
Por isso, estamos aqui hoje não para
lamentar ou chorar a falta de nossos pais, mas sim para comemorar, lembrando
que comemorar quer dizer “trazer de novo
à memória.”
E se como diz o ditado popular, “recordar é viver”, hoje, José e Isaura estão vivos pois a despeito da falta que nos fazem , continuam
presentes como saudade, pois saudade é a presença de uma ausência.
Como bem colocou Carlos Drumont de Andrade :
“ Por muito
tempo achei que ausência fosse falta. E lastimava a falta. Não há falta na
ausência. A ausência é um estar em mim. Sinto-a tão aconchegada em seus braços
que rio, danço e invento coisas alegres. Essa ausência dissimulada ninguém a
tira de mim. “
Em meu nome e de toda a nossa família
parabenizo-o pela realização de seu sonho que se tornou nosso também e agradeço
pela homenagem prestada não só a nossos pais com a todos nós.
VERA LUCIA ZAPOLLA RICCI
16 / fevereiro / 2008